A falta de boa música nos dias atuais: Reflexões sobre a indústria musical
Música, um elemento fundamental na vida de muitas pessoas. A capacidade de uma boa canção de contar histórias e aquecer a alma é inegável. No entanto, parece que estamos enfrentando uma escassez de músicas que preencham nossos corações nos dias de hoje. As canções que vemos nos stories do Instagram, por exemplo, geralmente são da década de 80, 90 e, às vezes, até dos anos 70. As grandes playlists também são dominadas por músicas dessa época. Mas por que isso acontece?
Alguns culpam a indústria da música por essa ausência de boa música nos dias atuais. Afinal, existe toda uma equipe de trabalhadores que precisam receber salários e se sustentar. A indústria musical precisa ter lucro, os produtores precisam ter retorno financeiro e os equipamentos utilizados são caros. No entanto, essa falta de boa música não pode ser atribuída apenas a essa indústria.
Durante muito tempo, eu também acreditava que a culpa era exclusivamente da indústria da música e dos apresentadores de programas de auditório. Eu pensava que eles não estavam proporcionando um espaço para as novas músicas e letristas. No entanto, percebi que essa visão estava equivocada. A verdade é que há um declínio na qualidade das músicas e letras produzidas atualmente em função de quem consome.
Os grandes letristas e compositores estão se tornando cada vez mais raros, e não há uma nova safra de talentos surgindo. Além disso, a polarização política também influencia negativamente no cenário musical. Muitas vezes, a arte é vista como algo que só pode ser consumido por determinado grupo ou segmento, e isso limita a produção de obras com propostas diferentes e inovadoras.
No entanto, é importante lembrar que a arte transcende questões políticas. Se nos limitarmos a consumir apenas o que está de acordo com nossas preferências políticas, iremos perder grandes obras de arte. Picasso, por exemplo, era comunista, mas sua obra "Guernica" é uma referência artística mundial. O mesmo acontece com artistas brasileiros, como Chico Buarque, que possui uma visão política mais à esquerda, mas é admirado por pessoas de todos os espectros políticos.
A maioria dos artistas enxerga o mundo de forma peculiar e diferente, o que os torna mais sensíveis e humanitários. Eles possuem, em sua maioria, na uma visão mais à esquerda, mas isso não significa que pessoas de direita não possam apreciar sua arte. É importante entender que a sensibilidade artística vai além das preferências políticas.
Apesar de compreender a necessidade da indústria da música em garantir seu lucro, é triste constatar que a maioria das músicas atuais não alcança a mesma qualidade de décadas passadas. A música difícil de vender fica em segundo plano, enquanto atingem sucesso aquelas com letras superficiais e batidas dançantes, que são mais facilmente compreendidas pelo público atualmente.
Essa falta de compreensão do público pode estar relacionada ao baixo índice de educação e cultura no Brasil. A compreensão e valorização da música e da arte como um todo acabam ficando comprometidas quando a qualidade da educação é baixa. Assim, os artistas têm ainda mais dificuldade em produzir e distribuir obras com conteúdo mais complexo e inovador.
Nesse cenário, é provável que nos contentemos cada vez mais com as músicas das décadas passadas, que ainda conseguem transmitir as emoções que estamos procurando. É uma pena que a perspectiva de melhora seja tão difícil, principalmente quando olhamos para os resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), onde o Brasil se encontra em uma posição desfavorável.
Em contrapartida, é importante ressaltar que no exterior, em locais com um nível maior de compreensão do público, a música atual ainda consegue ser de boa qualidade. Isso mostra que a capacidade de apreciar e valorizar a música é resultado de um bom sistema educacional.
Enfim, é triste constatar que estamos enfrentando uma crise na qualidade musical nos dias de hoje. No entanto, é fundamental buscarmos meios de valorizar e incentivar a produção de músicas de qualidade, assim como a melhoria da educação e da compreensão cultural da sociedade em geral.
Paulo Feres
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